domingo, 14 de outubro de 2007

Montauk - Santos/SP


Quarteto capitaneado pelo compositor Ciro Hamem, Montauk faz folk-rock em português e carrega influências como Bright Eyes, Pavement e o antológico Bob Dylan. A banda surgiu em meados de 2005 e trilhou um caminho de shows entre Santos e São Paulo, enfrentou mudança de integrantes e chega em 2007 com uma formação permanente e pronta para seguir seu destino. Montauk segue em frente com canções lo-fi, recheadas de melodias pop, e letras rebuscadas que contam experiências amorosas de forma sutil e apaixonada. Com um disco na bagagem, tempo de estrada e muito talento, o quarteto usa e abusa da emoção nas apresentações ao vivo. A fotossíntese do Montauk se inicia com os acordes criados no violão folk de Ciro Hamem, ganha harmonia e intensidade com as notas do tecladista Giulliano Larin, é seguida pelas linhas eficientes do baixista Rafael Campos e esbarra na bateria bem marcada à la Teenage Fanclub, tocada por Robson Lorenz.
Entrevista com Ciro e Rafael.

Cinta Liga: Comecem falando um pouco sobre a banda.
Ciro: O Montauk começou quando eu fazia umas composições só voz e violão. Mas nem todo lugar aceita show desse tipo, então achei legal tocar com uma banda. O Rafael foi o primeiro a entrar, originalmente tocando teclado. Depois veio o Robson na bateria. Nós 3 somos os fundadores praticamente. Os primeiros shows aconteceram no final de 2005 e nesse meio tempo passaram pela banda vários músicos, baixistas, guitarristas e até percussionistas. Mas agora estamos com uma formação definida. O Rafael (Papito) passou pro baixo e agora temos o Giulliano no teclado. Fizemos o primeiro show com essa formação essa semana mesmo.
Rafael: Quando eu e o Ciro começamos o projeto, estávamos procurando um baterista, e quando fomos num show aqui na nossa cidade que tocou Biônica e outras, resolvemos sair perguntando quem tocava, mas eu duvidava que iríamos encontrar, mas para nossa felicidade encontramos o nosso amigo Robson.
Ciro: Tocou Devotos De Nossa Senhora Aparecida também (banda do Thunderbird da MTV). Aí pensamos que devia ter gente nesse show, que curtiria o tipo de som que queríamos fazer.

Cinta Liga: E qual o tipo de som que vocês desejavam?
Ciro: Então, na época, e até hoje ouvia muito folk e indie rock. O Robson era um cara que curtia umas coisas mais para o indie rock mesmo, tipo guitar, como Teenage Fanclub e Nada Surf, mas encaixou perfeitamente. Além de ser um ótimo baterista e fazer sucesso entre as meninas, o Robson é um dos meus melhores amigos.
Rafael: No começo era bem diferente né Ciro?!! Eu ia ser o cantor, e eu queria tocar um som mais Rock'n Roll, na época estava viciado em Strokes e queria cantar em inglês, mas aí começaram as divergências e ele queria que o som fosse em português, ai eu pulei fora... só mais tarde que eu voltei pro projeto para tocar meu tecladinho CASIO!

Cinta Liga: Então são essas as influências da banda?
Ciro: As influências da banda são várias, eu ouço de tudo. No momento dessa entrevista estou ouvindo Wu-Tang Clan, mas na banda acho que as influências são bandas tipo Bright Eyes, Rilo Kiley, Violent Femmes, The Cure e até o Bob Dylan.
Rafael: A gente tem um gosto bem diferenciado um do outro, eu gosto desde Ópera até Rap, mas para o som da banda, acho que nós focamos mais no folk e indie rock mesmo. Já o nosso novo tecladista é o que tem o gosto musical mais diferente do nosso, o Giulliano gosta mais de Genesis, Scorpion...
Ciro: Acho que Vanguart pode ser considerada uma influência também. Ainda mais que são nossos amigos. Tem uma banda nova que estou ouvindo muito agora também, se chama Beirut, o cara faz um som meio leste-europeu com uns instrumentos exóticos pro rock, tipo trompete, acordeon.

Cinta Liga: Legal! E quanto às letras das músicas... de onde vem a inspiração?
Ciro: Acho que de tudo. Toda arte é um pouco auto-biográfica, eu acho... pode ser alguma coisa que vivi, que ouvi, um filme que assisti, um livro que estou lendo naquele momento. Mas é sempre uma visão do autor sobre determinada coisa. Todo tipo de arte tem que ser passional.
Rafael: Ele escreve muito sobre amor, como as coisas cotidianas mudam o jeito da pessoa agir, aquelas coisas pequenas que ninguém percebe, mas que quando colocadas sob as palavras certas sai algo realmente bonito, pelo menos é o que eu acho... mas ele escreve muito sobre como vivemos na nossa cidade onde só se tem bares para ir e uma diversão noturna é ficar bêbado! Hahaha.

Cinta Liga: Mas o meio independente é isso, né... falar cada um do seu caminho, da sua vida. E falando em independente, como está a carreira de vocês? Tem algum CD lançado, ou previsão pra lançar um?
Ciro: Temos algumas gravações, mas nunca foi lançado nada oficialmente. Gravamos umas músicas no fim de 2005/começo de 2006 que são as que estão disponíveis para download nos sites. O plano agora é de entrar em estúdio ainda esse mês para dessa vez gravar um CD e lançar de verdade, da maneira independente. Temos muitas músicas novas e o som da banda já mudou bastante do começo pra cá. Quanto à carreira, tem tudo para melhorar a partir desse lançamento. Afinal, é muito difícil tocar em festivais e esse tipo de evento sem ter alguma coisa (física) para enviar. A banda está praticamente estreando novamente agora. O show com o Vanguart que fizemos essa semana foi um verdadeiro começo. Temos uma data agendada para São Paulo no dia 26 de outubro e esperamos que vocês nos levem para tocar em Campo Grande! hehehe. Ah, tem uma data a confirmar em Taubaté também. Outra em Mogi... tem muitas coisas no ar.

Cinta Liga: E de onde vem o nome da banda?
Ciro: Vem do filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", Montauk é a estação de metrô onde o casal de protagonistas se "reencontra".

[Ciro tem um problema em seu computador e precisa reiniciar, enquanto isso, rola troca de informações, idéias e sorvete pelo msn! haha]

Cinta Liga: Bem... vocês são uma banda que possuem um gênero muito diferente dos sons que já ouvi. Como é isso pra vocês? Vocês tem alguma 'indiferença'? Como é a aceitação do público quanto ao estilo das músicas?
Ciro: Eu nem acho nosso som tão diferente assim. Acho que fazemos canções 'pop simples'. É muito difícil encontrar uma banda que faça algo, pelo menos de longe, parecido com o que a gente faz. O que se vê em todo lugar é a guitarra, baixo e bateria de sempre. Adicionar instrumentos que nem são tão exóticos assim, tipo violão e teclado, já soa estranho para alguns. Acho que o único show que fizemos com uma banda com um som meio próximo, foi com o Vanguart mesmo, sempre tocamos com bandas de formação óbvia, mas acho que isso é o legal, chocar o público, sendo diferente. Afinal, pra que fazer igual aos outros?
Rafael: Eu já acho bem diferente sim. Acho que imprimimos nas nossas notas um som minimalista, romântico e divertido que pouco se vê por aí, e a aceitação do público começa a crescer agora que estamos nos aperfeiçoando a cada dia! É isso mesmo Ciro, chocar o público... lembra do nosso primeiro show?!?!
Ciro: Vou falar o seguinte: aqui em Santos tem muita gente que se acha o músico, nego que se acha o guitar hero. Tem muita técnica e acha que isso é tudo, mas acho que pra mim, a música está no sentimento, no feeling. Eu toco violão desde os 13, sei lá, e até hoje não sei tocar direito, até por isso que procurei músicos de verdade pra formar o Montauk.
Rafael: Músicos de verdade!?!? Pô, tenho que sair da banda então!! hahahaha.

Cinta Liga: O negócio é mais ou menos assim: música na alma e não no ego, certo?!
Ciro: Tem gente que consegue conciliar os dois, acho que técnica é algo que se pode aprender. Já sentimento, emoção é difícil...vou te dar um exemplo, o disco In The Aeroplane Over The Sea do Neutral Milk Hotel é considerado um dos melhores no gênero indie rock de todos os tempos e o Jeff Mangum, que faz todas as músicas é um cara que tem uma sensibilidade incrível, é impossível você escutar e não sentir o coração e a alma do cara ali. E todas as músicas nesse disco tem dois, três acordes. É incrível o que pode se fazer com tão pouca coisa. Jeff Mangum inspirou muita gente, até a Karen O. do Yeah Yeah Yeahs disse que começou a cantar por causa dele e as músicas do cara não são rock também. É uma coisa que está acima disso, bem acima daquele cara que só tem técnica e só sabe fazer firula e fica tocando achando que é o rock´n´roll. Acho que é isso...

Cinta Liga: Deixando para trás o sentimento e falando do materialismo um pouco, como é sobreviver no underground, sem apoio de gravadoras e patrocínio para fazer shows?
Ciro: É ruim, mas a gente faz por diversão mesmo. Nunca ganhamos nada com isso e também não é essa nossa pretensão.
Rafael: Gravadora é sempre uma questão meio estranha. É lógico que seria legal ter uma fonte de distribuição maior, mas é para isso que existe e nos apoiamos na internet, e é por isso que resolvemos que não vamos vender nosso próximo CD, vamos distribuir para quem quiser, vemos isso como um investimento. Mas é realmente como o Ciro falou, fazemos isso porque nos divertimos. A partir do momento que virar uma obrigação e não sentirmos mais prazer nas nossas músicas, com certeza vamos parar.
Ciro: Mas é claro que temos umas metas para atingir, como tocar em Moscou e em Nantes.
Rafael: Eu quero tocar na Suécia, mas se eu pisar lá, não volto mais!

Cinta Liga: E vocês têm alguém pra ajudar na divulgação, como o pessoal do Orkut e fotolog ou são só vocês mesmo?
Rafael: Bom, por enquanto só nós mesmos. Somos os nossos próprios produtores.
Ciro: Mas quem quiser ajudar é bem-vindo!

Cinta Liga: Vocês querem agradeçer alguém em especial? Dar um 'alô'?
Ciro: Primeiramente, agradecer vocês duas, né. Afinal, estão fazendo essa entrevista e vão levar a nossa banda para Campo Grande. Agradecer a todo mundo que comenta no nosso fotolog e na comunidade do orkut.
Rafael: Eu quero agradecer a vocês pela iniciativa de ajudar as bandas do Brasil. Queria agradecer a galera da carniça daqui de Santos, que está semrpe com agente nas chapações do dia a dia!!
Ciro: Todo mundo que apóia, que vai aos shows e você que está lendo essa entrevista agora, depois baixe nossas músicas no Trama e veja nosso vídeos no Youtube e tudo o mais. Baixe no Myspace, melhor, sei lá, baixe onde quiser. Esperamos que vocês gostem das músicas e se algum fã quiser nos presentear com sorvete de pêra, fique a vontade!
Rafael: Opa, com certeza! Tem que vir nos visitar, quando quiserem o conforto do litoral é só chegar mais! [e o papo continua...]
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